No Brasil, um país onde a memória econômica é tão volátil quanto as promessas políticas, há uma crença inabalável que atravessa gerações: "quem investe em terra, não erra." Um mantra de avós, de pais, de gente que viveu as reviravoltas da economia nacional e, ainda assim, dormiu tranquilo com a posse de um pedaço de chão. Mas será que essa velha máxima ainda sustenta os pilares do investimento em 2024? Ou será que a nova cartilha econômica, desenhada pela taxa Selic a 13,25%, mudou o jogo de vez?

O investidor qualificado – esse sujeito que carrega planilhas como uma prorrogação da própria pele, que entende cada vírgula dos juros compostos e que dorme abraçado a um relatório de mercado – esse investidor, hoje, faz contas. Muitas contas. Diante da remuneração tentadora dos títulos públicos, das NTNBs, do pré-fixado com taxas gordas e dos fundos imobiliários ajustados à nova realidade, ele se pergunta: "Por que diabos eu vou travar meu capital em um imóvel se posso ter uma renda passiva previsível e indexada à inflação?"

A dúvida é legítima. O imóvel comum, aquele apartamento sem storytelling, sem diferenciação, virou concorrente de si mesmo. Perde para a liquidez da Bolsa, perde para a simplicidade dos juros que não exigem fiador, reforma ou inquilino inadimplente. O que sobra, então, para o mercado imobiliário? O que resta para os incorporadores, para os corretores, para o Brasil do cimento e do tijolo?

A resposta está naquele outro investidor. O investidor clássico. Gente que não faz trade, que nunca comprou um loteamento no metaverso e que, se alguém lhe falar de "criptomoeda", perguntará se é um novo tipo de minério. O investidor clássico é aquele que o mercado gosta de chamar de conservador, mas não se engane: ele não é um nostálgico do passado, e sim um guardião da segurança. Esse investidor é um sobrevivente de tempos difíceis. Viu bancos quebrarem, governos confiscarem poupanças, viu a hiperinflação transformar o salário em pó antes do fim do mês. Para ele, imóvel não é um ativo. É um porto seguro. É o antídoto contra o pânico do amanhã.

O Brasil de 2024, perdido em análises e previsões, esqueceu desse público. O mercado falou com o qualificado, mandou cartas para os fundos de investimento, bateu na porta dos family offices. Mas não olhou para o sujeito que continua acreditando que um título do Tesouro pode ser um bom negócio, mas que um pedaço de terra é inquestionável. A comunicação imobiliária se rendeu ao economês e deixou de lado o argumento que, para ele, importa: a segurança de saber que, quando tudo mais falhar, ele ainda terá uma propriedade.

Este é o momento de resgatar esse diálogo. De lembrar que imóvel não é só rentabilidade, mas patrimônio. Que ele não evapora numa manhã de crise, que não desaparece com um decreto, que não precisa de um banco central para continuar existindo. É o momento de contar histórias, de mostrar que um investimento imobiliário pode ser mais do que um número em uma planilha. Que pode ser a tranquilidade de um futuro previsível.

O investidor clássico ainda está aqui. Ele ainda acredita. A questão é: o mercado imobiliário ainda acredita nele?

*Eclesiastes Júnior é CEO da Lucid Arquitetura de Comunicação, responsável por mais de 200 lançamentos imobiliários em todo o Brasil. (Tik Tok /Instagram/Twitter: @eclesiastesjr)