O mercado imobiliário brasileiro vem passando por uma transformação significativa nos últimos anos, e um dos movimentos mais expressivos é o crescimento da participação feminina no setor. Em Goiás, os dados do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECI-GO) mostram que, dos cerca de 25 mil corretores ativos em todo o estado, aproximadamente 10 mil são mulheres, o que representa 40% do total. Somente em Goiânia, há 15 mil profissionais atuando na área.

Esse avanço reflete uma mudança cultural que vai além da ocupação de vagas: as mulheres estão trazendo novas perspectivas, habilidades e estratégias para o setor. A atuação feminina se destaca não apenas pela competência técnica, mas também pela capacidade de construir relacionamentos sólidos, entender as necessidades dos clientes e propor soluções criativas em um mercado em constante transformação.

Ainda que a presença feminina esteja em expansão, os desafios persistem. Muitas profissionais enfrentam obstáculos como o preconceito de gênero, a limitação de acesso a cargos de liderança e a constante busca por equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Mesmo assim, têm conquistado espaço com determinação, mostrando que sua contribuição vai muito além do esperado.

A trajetória de muitas mulheres no setor imobiliário é marcada por coragem, reinvenção e superação. É o caso de Sol Diniz, corretora da Adão Imóveis - Vida Nova, que ingressou na área no fim da pandemia, após decidir mudar de carreira. Vinda da fisioterapia, ela enxergou no mercado imobiliário uma oportunidade de crescimento, mesmo reconhecendo os obstáculos de ser mulher em um setor historicamente masculino. Segundo ela, o desafio não está apenas em conquistar espaço, mas em manter uma postura firme diante de situações de desrespeito, além de enfrentar a competitividade negativa entre mulheres, que ainda persiste em alguns ambientes.





Sol também destaca a importância de construir autoridade no ambiente digital, onde, segundo ela, é preciso ir além da imagem: “diariamente, exponho conhecimento para mostrar que não sou apenas um rostinho bonito”. Explica. Ela acredita que a presença feminina traz diferenciais importantes para o setor, como sensibilidade, visão de lar e atenção aos detalhes.

Diniz reforça também que vem percebendo que o mercado está mais aberto e receptivo às mulheres: “Acredito muito nisso, tanto que vemos mulheres constantemente em pódios, premiações, cargos de liderança. Porém, ainda há muito o que melhorar ainda”. explica. 

Blenda Garcia, corretora da Lopes Jardim Goiás, chegou ao mercado imobiliário de forma inesperada. Seu sonho era ser atriz — chegou até a ser convidada para Malhação —, mas seguiu outro caminho e acumulou experiências em vendas, inclusive em shoppings. Foi numa pequena imobiliária, inicialmente no setor administrativo, que teve a oportunidade de migrar para a corretagem. “Foi aí que tudo começou: vendendo lotes, debaixo de tenda.” O início desafiador virou escola e base sólida para sua atuação no setor.






Ela relata que, apesar do respeito dos clientes, já enfrentou comentários machistas por parte de colegas. “Ouvi mais de uma vez que, por ser mulher, seria mais fácil vender.” Para Blenda, esse tipo de visão reforça estereótipos e desvaloriza o esforço das profissionais. Por isso, sempre buscou se destacar com resultados e postura. “A gente precisa se impor pra mostrar que não estamos aqui por acaso.” diz a corretora. 

Hoje, Blenda vê um mercado mais aberto à presença feminina e se inspira ao ver mulheres liderando equipes e ocupando cargos estratégicos. “Estamos sempre no topo dos rankings.” Para ela, o diferencial está na escuta, na sensibilidade e na conexão com o cliente. “Não vemos o cliente como número. A gente enxerga o desejo e a história por trás de cada negociação.” afirma Blenda. 

A tecnologia tem sido uma aliada importante nesse processo. O uso de ferramentas digitais, redes sociais e plataformas especializadas tem permitido que as mulheres ampliem sua presença no mercado, diversifiquem seus canais de atendimento e ofereçam experiências mais modernas e eficazes aos clientes. A familiaridade com o ambiente digital também contribui para a construção de marcas pessoais fortes e a geração de autoridade no setor.

Com a perspectiva de que essa participação continue crescendo, as empresas que investirem em políticas de equidade e inclusão tendem a sair na frente. Um ambiente mais diverso favorece a inovação, melhora a comunicação com o público e fortalece a imagem institucional.

A presença feminina no mercado imobiliário goiano é um indicativo claro de que o setor está evoluindo. Com competência, visão estratégica e protagonismo, as mulheres estão moldando um futuro mais equilibrado, inovador e representativo para toda a cadeia imobiliária.